sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Para ti, minha Filha...

Para a Martina, para que sempre saiba onde procurar a si mesma.
Filha, a princípio, o dia 21 de dezembro de 2010 não teria um significado muito especial, seria apenas mais um dia em nossa vida. Digo “a princípio”, pois foi nesta terça-feira quente e comum que eu e a tua mãe soubemos que estavas a caminho com a confirmação da gravidez em um frondoso “sim” colocado na folha timbrada do laboratório em que foi feito o exame – tua mãe nem precisa de confirmações científicas, ela já sabia, por instinto, que estavas dentro dela. Desde aquele momento a nossa história começou a ser contada novamente, pois, se antes éramos dois, agora somos três...e recordo algumas coisas que jamais me fugirão da memória.
Recordo com emoção que naquele instante eu e a tua mãe experimentamos um entreolhar inédito ao longo dos quase 20 anos lado a lado nessa estrada. Foi um instante só nosso. Sorrimo-nos com os olhos. Sorrimo-nos com o canto da boca. Sorrimo-nos com as lágrimas. Sorrimo-nos com a certeza de que tudo ia dar certo. Sorrimo-nos por puro encantamento. Sorrimo-nos porque já conseguíamos sentir teu cheirinho, porque já lá imaginamos como seria teu rostinho, e já te púnhamos a dormir entre nós como ainda o fazes.
Dali em diante, durante a gravidez da tua mãe, enamorados contigo e com a vida, a ti já chamávamos “Ervilhinha” - alguns meses mais tarde, de “Bolota” - e ríamos um para o outro, sabendo que dentro da barriga da tua mãe, já tu nos sorrias de volta, numa curtição sem igual, numa viagem sem volta de três tripulantes para lá de felizes.
Por vezes foi difícil esperar os nove meses e controlar a nossa crescente vontade de que tu estivesses de uma vez em nossos braços, deitada entre nós na nossa cama que também é tua, imaginando cafungadas no pescoço, mordidas nos teus pezinhos, beijos e mais beijos e mais beijos e mais beijos – não cansamos de te beijar!
Também era inevitável ficarmos imaginando como seria o teu riso desdentado, tuas perninhas e tuas mãozinhas e tuas dobrinhas, teus humores e teus barulhinhos bons, rezando e pedindo a Deus para vires firme, forte e saudável.
Imaginávamos, dia após dia, como seria a primeira vez de muitas coisas novas que passariam a acontecer, a primeira vez que iríamos nos olhar olhos nos olhos, e reconhecermo-nos lá no fundo de cada um, numa triangulação perfeita, um dentro do outro. Jamais imaginei, porém, a sensação da primeira vez em que, deitada em meu peito, sentimos o coração um do outro a bater...e posso te dizer que foi a coisa mais linda que já me aconteceu!!!
Lembro também do dia em que fizemos a ecografia e descobrimos que eras uma menina. Lá de dentro da barriga, mesmo em um movimento involuntário, abriste tua pequena mão e acenaste para nós, e um nó se fez em minha garganta. Chegando em casa para comemorar, de imediato, te fiz essa pequena homenagem que te deixo registrada aqui:
“Porque hoje, pela primeira vez, abanaste para mim. Hoje, pela primeira vez, pude te chamar pelo teu nome. Hoje, pela primeira vez, a cada batida do teu coração, o meu quase me saia pela boca. Hoje, pela primeira vez, te vi linda e faceira como só mesma tu poderias ser. Posso dizer que foi amor. Amor à primeira vista. Amor para sempre.”
Com uma felicidade imensa, nós cantávamos e dançávamos na nossa sala uma música qualquer, reis do nosso pequeno e maravilhoso mundo, a espera de ti, a herdeira desse nosso trono que não é cravejado de diamantes nem banhado a ouro. Sequer é, como outros tantos tronos de outros tantos reinos, feito com o mais puro marfim ou com o mais nobre carvalho. Mas que é repleto de felicidade, é cheio de alegria, é feito de amores perfeitos, é de risos e cambalhotas e cores e luzes e borboletas.
Naquela altura já tínhamos consciência da responsabilidade nossa de te mostrar que o mundo cá fora não é fácil, mas que, em contrapartida, quando temos alguém para amar e alguém que nos ame, não é tão difícil quanto as pessoas e coisas por vezes nos fazem crer – não é fácil, mas basta sabermos aquilo que nos é essencial para o viver ser bem mais leve e tranquilo. Tínhamos também a consciência de que a nós caberá escolher a forma como vamos conduzir cada novidade que contigo chegaria, e não vamos nos furtar disso, porque se o ditado que diz que “a fruta não cai longe do pé” é verdadeiro, temos a certeza de que tudo será bem feito e dará certo.
Coincidência ou não, foi também numa terça-feira, em 09 de agosto de 2011, e desta vez uma terça-feira fria, chuvosa e ventosa, mas nada banal e para lá de especial, que finalmente pude te ter em meus braços, braços trêmulos, diga-se de passagem.
Finalmente, pudemos te olhar nos olhos e, de imediato, ficamos fascinados por ti. Pudemos sentir teu cheiro que nos inebria. Roçar tua pele de seda e observar a tua ternura que nos comove. Ouvir tua respiração serena, sentir a perna tremer e a lágrima emocionada rolar no rosto. Até que enfim, pude te dizer um “eu te amo” ao pé do ouvido e tenho a certeza de que já lá, apesar de recém nascida, me ouviste e soubeste o significado disso.
Ao te ver pela primeira vez, vi a nós mesmos, nos teus jeitos que são nossos, nas tuas formas que são nossas, na tua beleza que é nossa, no teu riso que é nosso e no teu choro, que também é nosso. Me pego rindo à toa e quando me dou conta disso, a garganta empedra e a minha felicidade fica tatuada na minha cara. A verdade é que eu me derreto todo a toda hora e isso me faz mais homem, mais humano.
Foi tudo novo, tudo maravilhoso, tudo brilhava. E tudo aquilo que eu já julgava ser e saber, se modificou de uma hora para outra, antes mesmo do piscar dos olhos. Nesse pequeno tempo que estás aqui conosco, tudo já é diferente, melhor, pleno, colorido. Muitas das coisas que eu pensava em te escrever antes de nasceres, de certa forma, perderam o significado. Muitas outras, desconhecidas até então, ganharam um imenso significado!
Quero que leves sempre contigo a certeza de que para a alegria ou para a tristeza, para o banho de chuva ou para a lição de casa, brincando ou simplesmente em silêncio, vamos tocar o barco um ao lado do outro e estaremos sempre contigo para tudo, ao alcance da tua mão ou da tua voz, com o ombro pronto para amparar teu pranto e a casa sempre aberta para te dar refúgio.
A gente sabe que a vida não vem com um manual de instruções e nem mesmo o Google, esse sabe-tudo, tem a resposta sobre a melhor maneira de vivê-la. Porém, sendo teus pais, não vamos nos furtar de te dar nossos “conselhos”, não seremos omissos ou ausentes. Vamos fazer a nossa parte para que cresças com a cabeça arejada, com o corpo saudável e o coração bom. Vamos te ensinar no exemplo que vale a pena ser uma boa pessoa. Para que, assim, possas escolher os teus caminhos. Vamos fazer o possível e o impossível para que possas ser feliz, pois no final é isso o que realmente importa.
Muitas vezes bateremos de frente, muitas vezes teremos nossas dúvidas e inseguranças de como agir, muitas vezes seremos obrigados a te impor o que pensamos ser correto, mas sempre te deixaremos espaço para que sejas tu mesma, faças tuas escolhas e, naturalmente, encares as conseqüências delas. Outras tantas vezes a vida por si só se encarregará de te mostrar o viver e suas vicissitudes. Se caíres, estaremos sempre lá para te ajudar a levantar. Quando precisares, estaremos lá para te socorrer, mas terás tuas próprias pernas, e aprenderás a andar sozinha.
Se vamos cometer nossos erros??? É claro que vamos, provavelmente muitos...e não vai ser só nessas primeiras vezes que trocamos as tuas fraldas ou nos primeiros banhos que te damos...vamos cometê-los ao longo da vida e vamos crescer juntos e junto com eles.
Queremos te dizer infinitas vezes (como hoje já dizemos em modo repeat) “eu te amo” e não te queremos melhor nem acima de ninguém. Queremos-te nossa companheira, nos queremos teus companheiros – para as horas boas e para as horas ruins.
Minha filha amada, não queiras ser sempre forte, pois é importante saberes respeitar tuas próprias fraquezas. Com o tempo vais ver que faz parte ser um pouco perdida e que de nada adianta ter a certeza de tudo, porque tudo é uma questão de parâmetro e os parâmetros mudam de uma hora para outra, antes mesmo daquele piscar de olhos.
Nunca te esqueças de deixar a simplicidade te comover. Te indigna perante a miséria. Chora diante do belo. Respeita os homens e os animais. Ama tua família – são esses os que nunca vão te deixar na mão! Tenhas amigos. Sejas amiga. Cuida da natureza e preserva o nosso meio ambiente. Acampa no inverno (no verão também). Caminha descalça. Lê as poesias dos outros. Escreve as tuas próprias. Faz uma casa na árvore. Constrói castelos de areia. Vive contos de fadas. Conversa com um cachorro. Anda de bicicleta. Pula as ondas da nossa praia e mergulha de cabeça naquilo que te dá prazer.
Ri de ti mesma, erra, cai, levanta, sacode a poeira e ri de ti mesma de novo. Voa alto, desdenha dos teus limites e corre os riscos. Arrisca, e vai atrás dos teus sonhos.
Filhota, és o amorzinho de seu pai e de sua mãe. A nossa jóia rara. A nossa pequena. A nossa boneca de porcelana. Nosso docinho de côco. Nossa eterna princesa. Nossa grande nova. Nossa bossa nova.
E é isso, Filha, essa folha de papel tatuada com algumas palavras, o que temos para te deixar como nosso legado maior, para que no dia em que não estivermos mais por aqui, te seja sempre possível nos buscar dentro de ti mesma, no lado esquerdo do teu peito, a cada batida do teu coração. E aí vais ter sempre na tua lembrança boa esse amor diferente, maior que tudo, daqueles que não se explica com palavras, mas se expressa com lágrimas gostosas, com sorrisos doces, com beijos delicados (os mesmos que eu já te dava na barriga da tua mãe), com olhares de cumplicidade que nos batem lá no fundo, com pequenos grandes gestos e atos que nos deixam diferentes, brilhosos.
Um beijo no teu coração, Pai e Mãe.

Um comentário:

  1. Muito bonito pai gabiru! Que ela cresça com bastante saúde e amor de todos amigos e familiares, assim como foi conosco. Grande abraço!
    Figu

    ResponderExcluir